sábado, 31 de março de 2018

20180331 A Moral Mediúnica

J. Herculano Pires
 
Mediunidade

Conceituação da Mediunidade
e
Análise geral dos seus problemas atuais






A Moral Mediúnica



A transformação do mundo se faz pela conversão. Não se trata da conversão a uma seita, a um tipo especial de fé, mas da conversão dos valores mundanos em valores espirituais. O médium é um servidor do espírito e para servi-lo terá de integrarse nas condições espirituais que traz em si mesmo, na sua essência humana. O próprio desenvolvimento da mediunidade lhe ensina isso.



As funções mediúnicas mudam a direção do seu campo visual e perceptivo. Ele se desliga, se desimanta da realidade mundana para focalizar em sua sensibilidade as perspectivas do espírito. Essa esquizofrenia divina caracteriza os estágios superiores da evolução anímica em que a realidade concreta se converte na abstração das idéias, dos conceitos, dos sonhos, dos anseios utópicos.



O sonho dos poetas e artistas e a utopia que leva os mártires ao suplício são os primeiros sinais do alvorecer da mediunidade na esteira da reencarnação. O espírito sobe do sensível platônico (do concreto) para o inteligível (o abstrato) que é a visualização das essências. Por isso Platão, nos seus últimos anos, sentia-se incapaz de transmitir em palavras as percepções do seu mundo das idéias. E por isso Paulo de Tarso, que imantado às tradições violentas do Judaísmo, perseguia o Cristo, ao receber o impacto da existência espiritual do Mestre, na Estrada de Damasco, desliga-se do mundo de falsas imagens em que vivia, perde a visão das coisas e mais tarde a recobra num ângulo superior, com os passes de Ananias, convertendo-se ao Cristianismo nascente. O desenvolvimento espiritual de Paulo o leva, naquele instante, à conversão cristã pelo batismo do espírito, nas águas invisíveis da mediunidade. Dali por diante ele será inspirado por Estêvão, o mártir que ele mandou lapidar na sua loucura mundana. Tudo se converte ao seu redor, o mundo em que passa a viver não é mais o da arrogância e da brutalidade, mas o mundo da abnegação e da humildade. O Doutor da Lei converte-se em aprendiz e servo da realidade cristã.



A mecânica da conversão é irreversível, porque decorre de um processo de amadurecimento psíquico, no desenvolvimento das potencialidades do espírito.



As potencialidades desenvolvidas elevam o grau consciencial da criatura e alargam o seu campo visual e perceptivo. O convertido, como aconteceu com Paulo, despe-se de todo o seu passado, mesmo à custa dos maiores prejuízos no plano material e mundano, para integrar-se numa compreensão superior da realidade.



Só podem regredir os pseudoconvertidos do formalismo religioso, da dogmática artificial das igrejas, que nada mais fazem do que trocar de dogmáticas, sem tocar nem de leve a fímbria da Verdade. O poder do Evangelho vivo e puro é semelhante ao do sol, que amadurece os frutos sem que estes possam voltar à condição de
verdes.




Daí a razão do ensino de Kardec no tocante à inconveniência do proselitismo forçado. Que cada qual fique onde está, na escala evolutiva das crenças religiosas, pois o conhecimento espiritual requer tempo e maturação de cada criatura.



Assim sendo individualmente, também o é coletivamente. O mundo só pode completar a sua conversão, iniciada pelo Cristo, quando estiver maduro para isso. Não obstante, não temos o direito de cruzar os braços ante as dores do mundo.



Nosso dever é trabalhar incessantemente para que a concepção espírita, o que vale dizer o ideal cristão em sua pureza primitiva, esteja sempre ao alcance de todos, particularmente das
novas gerações.


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Eu li isto hoje e acho bom ser compartilhado. Em que pese ter sido escrito num tempo em que o CatoEspiritismo dominava o Movimento Espírita. CatoEspiritismo é o espiritismo impregnado de valores católicos. Nada contra o Catolicismo ou outra qualquer forma de ver a vida. Mas há de ser diferenciado o que é do universo católico daquilo nascido a partir de Kardec formando o espiritismo.

Herculano Pires acreditava serem ramos de uma mesma árvore. Eu não vejo assim. Árvores diferentes, nascidas de sementes diferentes.

E ainda discordo do autor no tocante ao espiritismo ser a única vertente de Caminho. "São muitos os caminhos que levam à Casa do Pai." JN

Cristão, Cristo são termos não espíritas. Estão vinculados à imagem de Jesus pregado à cruz, ao seu sofrimento, para com isso fazer do homem um ser de fácil dominação pelas religiões e pelo Estado.

Jesus de Nazaré trouxe ao mundo uma mensagem de Libertação Espiritual. Um poeta guatemalteco nos diz "Jesus não é substantivo, mas Verbo". Isto significa ser a sua mensagem capaz de nos mover, de nos fazer sair da modorra e agir no mundo para transforma-lo.

E mais...

O espiritismo não muda ninguém.

O Homem toma consciência de Si Mesmo e inicia o seu proceso de mudança. Se tem coragem avança nesse processo mesmo com as inevitáveis incompreensões e perdas de amigos e familiares.

Mas quem ficou no caminho é passado e nunca devemos nos prender ao passado. Ser gratos às pessoas é normal, mas nunca estar presos a elas. O REAL é o Presente. E o Caminho é o mais solitário, principalmente quando Novas Concepções nos bafejam o coração.

ADIANTE ! ! ! Pois o REAL é agora.


Paulo Cesar Fernandes

31/03/2018.

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