domingo, 26 de janeiro de 2014

20140126 ProtoEspírito em Geley

ProtoEspírito em Geley


Gustave Geley

Do Inconsciente ao Consciente


Título Original em Francês
Gustave Geley - De I’Inconscient au Conscient


Librairie Félix Alcan
108, Boulevard Saint-Germain
Paris (1919)


Tradutor - Abílio Ferreira Filho


===

No estudo filosófico dos fenômenos da vida, vai-se do cume à base, do homem à animalidade superior, da animalidade superior à
animalidade inferior, somos conduzidos a admitir que a consciência é o que há de mais importante na vida; porque é o que há de
mais importante no homem.

Somos por isso levados a achar que a consciência, com tudo o que a ela se liga, se estende, encolhendo-se pouco a pouco, até aos
animais menos evoluídos, nos quais ela já existiria em estado de esboço.

Se, ao contrário, vamos da base ao cume, a conclusão que devemos tirar dos fenômenos da vida é totalmente oposta. É o que 1 Le
Dantec (Determinismo biológico), entre outros, esforçouse em salientar.

No animal inferior, as reações químicas do meio são suficientes para determinar os fenômenos vitais. O método “ascendente”
permite afirmar que em todos os fenômenos da vida, mesmo nos animais superiores, é inútil procurar outra coisa senão o resultado
de reações químicas. A forma específica de um animal em si mesmo, nós o veremos, é, segundo Le Dantec, simples função dessas reações.

Nos plastídeos, existe um estreito determinismo químico e não há motivo para lhes atribuir vontade e liberdade. Conclusão: o
determinismo bioquímico é o mesmo em toda a série animal e a vontade ou a liberdade, mesmo no homem, não são senão ilusões.
A noção de uma consciência animal é supérflua nos plastídeos. Se por isso, ela existe nos animais superiores, não é senão a título de
epifenômeno concordante com as reações químicas que constituiriam o fenômeno essencial.

Enfim, o animal muito inferior, tal como a esponja ou o coral, não sendo, de toda evidência, senão um simples complexo de vidas
elementares, deve-se inferir que mesmo o animal muito complexo e muito evoluído, muito centralizado em aparência, não é,
entretanto, ele mesmo senão um complexo análogo, existente e se mantendo a si mesmo por afinidade ou coesão moleculares, sem o
concurso de um dinamismo superior e independente.

Tal é o raciocínio e tais são as conclusões do método “ascendente”.

Essas conclusões são verdadeiras ou falsas?

O raciocínio é vigoroso e impecável. Se as conclusões são falsas, é somente porque o método é mau.

Veremos, em realidade, na seqüência desta obra, que, apesar do rigor do raciocínio, os resultados do método são inaceitáveis e
frequentemente absurdos.

É o que é fácil estabelecer desde agora, sem sair do domínio da biologia. Eis aqui um exemplo de indução absurda e inevitável do
método ascendente: o da sensibilidade.

Conhecemos por experiência que possuímos sensibilidade. Nós induzimos que a sensibilidade pertence à humanidade. Partindo
desse cume para descer a escala animal, julgamos que o animal superior possui igualmente a sensibilidade, porque suas
manifestações de dor ou de prazer se aproximam de nossas próprias manifestações.

Se continuamos a descer na escala animal, as manifestações são menos nítidas e, para os animais inferiores, sua interpretação se
torna duvidosa.

“Os sinais da dor, diz Richet ( em Psicologia geral), não são suficientes para afirmar a dor. A uma rã decapitada, retira-se a pata: ela se debaterá, com todos os sinais exteriores da dor, perfeitamente como se ela sofresse. Corta-se em duas uma minhoca, os dois
pedaços vão se debater convulsivamente. Dir-se-á que eles dois sofrem, ou bem, o que me parece muito mais racional, não se
pensará que o traumatismo determinou uma violenta ação reflexa?”


Por isso, se atribuímos sensibilidade aos seres menos elevados da escala animal, é por uma indução descendente. Raciocínio
obscuro vai do cume à base. Sigamos o caminho inverso: se examinarmos primeiro, fazendo abstração de nossa experiência
pessoal, os animais muito inferiores, seremos levados logicamente a rejeitar a sensibilidade, já que todas as reações podem se
explicar por reflexos.

A sensibilidade ao prazer ou à dor é, neles, uma hipótese inútil, e, conforme o princípio metodológico da economia de hipóteses, ela
deve ser descartada.

Mas então, por que admitir essa sensibilidade nos animais mais elevados?

Tudo pode também se explicar por reflexos. Como diz Richet, o grito de um cão que leva uma pancada pode ter, a rigor, só um
movimento reflexo! E esse raciocínio não é absurdo, já que era precisamente o dos cartesianos.

Entretanto, conduzido até a negação da sensibilidade humana, ele
se torna insustentável. Incita então a pôr, como Descartes, o
homem fora da animalidade; o que é evidentemente grosseiro e perigoso erro.

Por isso, o método que consiste em partir da base para explicar um dos fenômenos vitais essenciais é colocado em flagrante delito
de erro. Ele é suspeito para todos os outros. Sem dúvida, objetar-se-á, o método contrário pode também induzir a erro:

“Testemunha, diz Le Dantec, a famosa observação de Carter, na qual uma ameba espreitava na saída do corpo maternal uma jovem
“acinète” (acinète - uma planta), a ponto de eclodir. A “acinète” é um protozoário munido, no estado adulto, de tentáculos venenosos
particularmente perigosos para a ameba; mas, esses tentáculos só existem na “acinète” jovem e a ameba observada por Carter sabia
(!!) que a jovem “acinète” que ia sair do corpo de sua mãe seria comestível durante os primeiros tempos de sua existência.”


O erro é cômico; mas, quem não vê de imediato que ela é absolutamente insignificante do ponto de vista filosófico e que ela
desaparecia diante dos conhecimentos novos relativos ao instinto.

Esse erro, só levando um ponto de detalhe, não atinge em nada a
indução descendente que combina uma consciência relativa a toda a animalidade.

Mesmo se fosse arbitrariamente que a indução se estendesse à animalidade inferior, isso seria sem importância: não há inconveniente sério a atribuir a essa animalidade, fosse arbitrariamente, uma consciência e uma sensibilidade rudimentares.

Ao contrário, os erros do método ascendente são formidáveis, já que eles iriam até rejeitar aos animais superiores essa consciência e
essa sensibilidade!

Vê-se quanto tinha razão Augusto Comte quando dizia: “Desde que se trata de caracteres da animalidade, devemos partir do homem,
e ver como eles se degradam pouco a pouco, em vez de partir da esponja e procurar como eles se desenvolvem. A vida animal do
homem nos ajuda a compreender a da esponja, mas a recíproca não é verdadeira.”.


===

Antes de mais nada lembrar ser o texto de Geley de 1919. E isso importa.

Geley advoga a tese que para análise da sensibilidade e inteligência das espécies animais devemos partir dos animais superiores e
fazer o processo descendente. Eu não vejo solução de continuidade entre o homem e os mais simples organismos conhecidos. E mais...


Penso na possibilidade de se fazer uma análise que abarque as duas possibilidades: da base ao topo e do topo à base.

Afinal na trajetória dos ProtoEspiritos não há solução de continuidade. E mesmo partindo da base, conseguimos identificar já, nos organismos mais simples da escala, alguns elementos encontrados nos exemplares tidos por superiores, e mesmo o homem.

Até no Reino Vegetal foram feitas experiências capazes de demonstrar uma relação energética entre os donos das plantas e essas plantas. Longas ausências dos donos tinham negativos impactos sobre essas plantas, mesmo mantidas as condições exatamente iguais no tocante ao fornecimento de água e luminosidade. Isso desmonta a tese de apenas o heliotropismo e a busca dos nutrientes do solo formarem a estrutura de uma boa plantação, por exemplo. Outros elementos, elementos não materiais compoe o todo do ambiente dos vegetais.


No Reino Animal, entre os ProtoEspiritos, é muito evidente a presença de sensibilidade e mesmo de certa inteligência para todo
biólogo e para pessoas cuja vida tem forte vinculo com animais das mais diversas espécies. Partindo da observação das atividades
do homem o protoespírito aprende.

Mesmo em laboratórios de etologia, defrontados com "problemas" para ter acesso ao alimento os chipanzés deram mostras de
grande criatividade na resolução das dificuldades. Lembro que um deles, com o alimento num lugar alto, bem fora de seu alcance,
parou. Ficou sentado por alguns instantes e, em seguida se valeu de alguns caixotes presentes na jaula, empilhou-os e se deliciou
com as bananas a ele destinadas.

Chama minha atenção o fato desse elemento ter parado para pensar uma solução. E aqui temos um raciocínio na verdade. Um
momento de inteligência.

Muitos casos, narrados por etólogos de respeito, e mesmo alguns vídeos compoe um acervo capaz de nos obrigar a ter os olhos
abertos para essa fase para mim tão cara, a ProtoEspiritualidade.

Nas mais diversas espécies. Nas mais diversas "máquinas de sobrevivência", como se refere Richard Dawkins em seu livro "O gene egoísta"; conseguimos encontrar elementos de inteligência capazes de nos fazer ver essa fase apenas como a fase inicial da vida do espírito e nada mais.

Uma série de outras questões podem ser colocadas sobre o tema.

Mas não aqui, e não agora.


Paulo Cesar Fernandes

26 01 2014

Nenhum comentário: